segunda-feira, 28 de abril de 2008

SOLUÇÕES APROVADAS*

Mesmo sem computadores na escola, professores incluem a informática no planejamento, favorecendo o ensino e a aprendizagem
*(http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0211/aberto/mt_274557.shtml)

A maioria das escolas brasileiras não está informatizada, e vai demorar até que todas tenham laboratórios com equipamentos conectados à internet. As tentativas de prover as instituições com recursos tecnológicos são muitas, mas as questões envolvendo licitações e liberação de recursos do Estado tendem a demorar para se concretizar. Alguns professores usam essa realidade para justificar o fato de não prever o uso da tecnologia no planejamento. Outros arregaçam as mangas, procuram conhecer as ferramentas disponíveis e as utilizam em favor do ensino e da aprendizagem.

Bárbara Dieu, uma das pioneiras no uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) no Brasil e dona de cinco prêmios internacionais, como o Global SchoolNet de 2003, afirma: “Para aprender a utilizar os recursos, basta buscar informações, perguntar a quem sabe e insistir em aprender”. Nesta reportagem, você vai conhecer a história de cinco educadores que, sozinhos ou com a ajuda de amigos, encontraram soluções na própria rede mundial de computadores e fizeram uma revolução na vida dos jovens em lugares onde micros ainda são raridade.

As maneiras de resolver o problema da falta de recursos são bem criativas. Mônica Sepúlveda Fonseca, professora de História do CE Monsenhor Manuel Barbosa, em Salvador, conseguiu que suas turmas de 5ª e 6ª séries pesquisassem sobre a cultura baiana e publicassem os resultados em um site, mesmo com os oito computadores da escola sem acesso à rede (o modem aparelho que permite a conexão já foi solicitado à Secretaria de Educação do Estado). "A garotada topou freqüentar uma lan-house próxima à escola", conta Mônica, que dava orientações em classe e, no contraturno, monitorava os trabalhos online. "Os meninos aprenderam que pesquisa é mais que imprimir textos", conta, orgulhosa.

Já o professor de Ciências Ivan Tavares Scotelari de Souza, de São José do Rio Preto, a 440 quilômetros de São Paulo, conseguiu simular a navegação na internet em classe assim que a EE Celso Abade Mourão ganhou micros, em 1998. Ele se esforçou para aprender a usar as máquinas, pois tinha certeza de que a novidade seria importante em sala de aula: "Um dia, sem querer, cliquei com o botão direito do mouse em um site e descobri como gravar conteúdos offline. Salvei as páginas num disquete, que levei para a sala de aula, mostrando às crianças como surfar na rede mundial", relembra Scotelari. Hoje ele utiliza animações em flash, formulários de provas online e jogos virtuais, tudo de sua autoria.

Começo com e-mails

Diferentemente da experiência do professor paulista, a de Almerinda Borges Garibaldi envolveu formação. Ela fez um curso na organização não-governamental Partners of America e percebeu o potencial do mundo virtual. Mas no Centro Interescolar de Línguas de Taguatinga, cidade-satélite do Distrito Federal, onde leciona Inglês, existem três computadores para 4 200 alunos e a conexão de internet passa longos períodos fora de serviço.

Para iniciar um trabalho interativo, ela aprendeu a usar navegadores e e-mails. Encontrou os projetos didáticos no site Iearn.org. A proposta de trabalho é simples: basta escolher uma atividade, realizá-la em classe e enviar o resultado para a página, na qual educadores e estudantes de outros países podem fazer comentários, sempre em inglês. Os garotos começaram a compreender a dimensão do mundo, afirma Almerinda, que digita em casa a produção textual realizada em sala de aula e a publica na rede.

O entusiasmo dela envolveu colegas como Isabel Teixeira, que já utilizou o computador de uma aluna para participar do programa. Hoje ela forma grupos na sala de aula em que o coordenador, com micro em casa, se responsabiliza por digitar e publicar os escritos dos membros da equipe. Neste ano, a professora viajará ao Japão com dois estudantes a convite do Iearn.org. Eles vão elaborar, junto com jovens de outros países, um documento em inglês para os representantes do G8 - grupo que reúne os sete países mais industrializados e a Rússia - sobre a preocupação com os problemas ambientais e sugerindo soluções para eles.

Nas ondas da web

Nas escolas de Planaltina, também na periferia de Brasília, o aparelho de som e os alto-falantes eram usados pela garotada para ouvir música na hora do recreio. Até que um grupo de professores da região, com o apoio da rádio Utopia e da Universidade de Brasília (UnB), criou o programa Diversidade. No ano passado, seis unidades aderiram ao projeto, entre elas o CEF 04. Lá a professora de Arte Rejane Araújo de Oliveira envolveu 40 estudantes de 6ª a 8ª séries para produzir um programa de rádio ao vivo que era transmitido apenas por ondas de FM. Somente quem morasse num raio de 1 quilômetro da escola poderia ouvir a transmissão não fosse a parceria com o site Dissonante, criado por ex-alunos da UnB, que disponibiliza gratuitamente um servidor para a criação de rádios virtuais e ensina como usá-lo. "Para muitos jovens, o computador da rádio é o único com o qual têm contato", revela a professora. Os assuntos tratados no programa são os mesmos trabalhados em sala. "Como eles sabem que existem ouvintes, sentem-se motivados a pesquisar e produzir conteúdos de qualidade."


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Contatos
Bárbara Dieu, beeonline@gmail.com
CE Monsenhor Manoel Barbosa, Conj. Guilherme Marback, s/n°, Quadra 1, 41710-050, Salvador, BA, tel. (71) 3371-2012
CEF 04, Setor Educacional, Lote D, 73310-100, Planaltina, DF, tel. (61) 3901-4543
Centro interescolar de Línguas de Taguatinga, QSB 02/03, A/E 3/4, 72015-520, Taguatinga Sul, DF, tel. (61) 3901-6771
EE Celso Abade Mourão, R. Jesus Cristo, 1041, 15044-545, São José do Rio Preto, SP, tel. (17) 3236-3789